Lembranças guardadas nas prateleiras da memória e aqui revividas em forma de ecos
04/03/2006

Amizade...


Levantei-me cedo naquele dia!
Ás sete em ponto, lá estava eu, a entrar na camioneta que, ainda tinha de passar por mais algumas terras, onde pessoas de trajes domingueiros e cestos no braço aguardavam com alegria a sua chegada. Era quinta feira, dia de feira na vila.
Muitas curvas depois e algum pó de borralho inalado, cheguei por fim ao meu destino.
Mal pisei aquele chão, senti liberdade... tinha um dia só meu, para fazer o que me apetecesse!
Fui logo á escola, meter o nariz na pauta e ver o que a sorte me ditara naquele ano. Foi o esperado...
Já de volta e a caminho da feira, encontrei a Filomena que também ali tinha ído pelo mesmo motivo. Que bom, já tinha companhia para o resto do dia!
A meio da tarde resolvemos ir comprar um corneto e lambê-lo, sentadas no banco das traseiras da câmara. Tão fresquinho que ali estava!
Eu já tinha reparado, e até comentado com a minha colega, o numero de vezes que eles ali passaram de enormes mochilas ás costas e ar de quem anda á procura e não sabe bem o quê!
_Olá! Boa tarde.
_Olá
_Vocês são daqui?
_ Não
_E não nos podem indicar onde ficam os correios?
_Claro, é já ali atrás!
_Onde?
_Aqui mesmo_ levantamo-nos prontas a acompanha-los até aos correios.
Daí a um bocado, já andavamos os quatro a tagarelar e a rir, como se nos conhecêssemos há muito tempo. Tirámos fotografias e trocá-mos moradas, na esperança de algum dia daqueles, o carteiro nos bater á porta e nos entregar uma carta.
Uma semana depois, já tarde da noite, alguém batia com insistência na porta da minha casa. A minha mãe foi abrir e alguém perguntou por mim. Nem queria acreditar, eram os moços das mochilas ás costas que ali foram ter e pedir se podiam pernoitar!!
Caíu-me o coração aos pés tal terror senti, principalmente pela reacção do meu pai... como seria?!
Mas não, e para meu espanto, nem sequer ficou zangado ou me questionou! E tudo isso graças á simpatia dos rapazes.
A minha mãe tratou de fazer alguma coisa de comer e uma cama foi logo feita de lavado, para acolher dois estranhos, que tinha conhecido por acaso e ali tinham ído parar.
Por ali ficaram uma semana, tempo suficiente para deixarem marcas na memória e ainda hoje serem lembrados com um sorriso nos lábios.
Medusa

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